terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Alunos estressados, ansiosos e depressivos recorrem a centros de saúde mental de universidades americanas

Estudante levada às pressas a uma emergência psiquiátrica nunca é rotina, mas quando a Stony Brook University registrou três idas em apenas três dias, isso não foi surpresa para Jenny Hwang, diretora de aconselhamento psicológico.
Era o semestre do outono, uma época de estresse crescente com a chegada das provas finais e com a proximidade do recesso de fim de ano, por si só uma ansiedade.

Numa tarde de quinta-feira, um calouro que vinha tendo um mau desempenho acadêmico postou pensamentos suicidas no Facebook.

Se eu desaparecesse, ele escreveu, alguém iria notar? Um estudante alarmado contou aos funcionários da faculdade no dormitório, que chamaram Hwang fora do horário do expediente.

Ela entrou em contato com a polícia do campus. Policiais escoltaram o aluno até o hospital psiquiátrico do condado.

Houve mais dois fatos semelhantes naquele final de semana.

Sábado à noite, um aluno ficou preocupado com um amigo que tinha receita para o medicamento Xanax, que é ansiolítico, e acabou tomando um punhado de cápsulas de uma só vez.

No domingo, uma supervisora dos corredores de residência, Gina Vanacore, enviou uma atualização via BlackBerry para Hwang, que promove programas de treinamento para alunos e funcionários sobre intervenções para evitar o suicídio.

"Se você não fosse tão boa em colocar esses observadores", escreveu Vanacore, "nós teríamos de dormir aqui no fim de semana".

A Stony Brook é uma típica faculdade americana de hoje em dia.

Pesquisas nacionais mostram que quase metade dos alunos que visitam centros de aconselhamento psicológico lida com sérias doenças mentais, mais que o dobre de uma década atrás.

Mais alunos estão tomando medicamentos psiquiátricos e há mais emergências que exigem ação imediata.

"É tão diferente de como as pessoas estereotipavam o conceito de aconselhamento universitário.

Ou da década de 1970, quando os alunos chegavam com crises existenciais: Quem sou eu?", disse Hwang, cuja equipe de 29 pessoas inclui psiquiatras, psicólogos clínicos e assistentes sociais.

"Agora eles chegam trazendo histórias de vida envolvendo trauma extenso, um histórico de doença mental, transtornos alimentares, automutilação, uso de álcool e drogas".

Uma pesquisa recente feita pela Associação Americana de Aconselhamento Universitário descobriu que a maioria dos estudantes busca ajuda para problemas normais pós-adolescência, como decepção amorosa e crise de identidade.

Porém, 44% deles possuem sérios transtornos psicológicos, contra 16% em 2000, e 25% tomam medicamentos psiquiátricos, contra 17% há dez anos.

Os transtornos mais comuns de hoje: depressão, ansiedade, pensamentos suicidas, abuso de álcool, transtornos de atenção, automutilação e transtornos alimentares.

A Stony Brook, uma ramificação academicamente exigente da State University of New York (índice de admissão de 40%), enfrenta desafios de saúde mental típicos de uma grande universidade pública.

Ela possui 9.500 estudantes residentes e 15 mil que se deslocam até o campus.

O corpo discente, altamente diversificado, inclui muitas pessoas que são as primeiras da família a frequentar uma universidade e carregam consigo uma intensa pressão para terem bom desempenho, muitas vezes nas áreas de engenharia ou ciências.

Um grupo de terapia chamado Black Women and Trauma (mulheres negras e trauma), criado no semestre passado, incluiu participantes da África que sofriam de transtorno do estresse pós-traumático de violência na juventude.

A Stony Brook tem notado um acentuado crescimento na demanda por aconselhamento psicológico - 1.311 alunos começaram o tratamento no último ano acadêmico, um aumento de 21% em relação ao ano anterior.

Ao mesmo tempo, pressões orçamentárias da New York State obrigaram uma redução de 15% nos serviços de saúde mental ao longo de três anos.

Perto do grêmio estudantil, no centro do campus, o prédio do Centro de Saúde do Estudante data dos dias em que um dos problemas de saúde mais sérios dos alunos era mononucleose.

Porém, a contratação, há três anos, de Judy Espósito, assistente social com experiência em aconselhamento psicológico a viúvas do 11 de setembro, para iniciar uma unidade de triagem foi um sinal da nova realidade em saúde mental estudantil.

Às 9h da manhã de uma terça-feira, após o fim de semana agitado do campus, Espósito passou pelo dispensador de higienizador de mãos na entrada da universidade quando notou dois colegas correndo em direção ao seu escritório.

Antes mesmo que ela tirasse o casaco, os alunos reportaram sobre uma aluna que tinha se cortado e expressado pensamentos suicidas.

A equipe de triagem de Espósito registra de 15 a 20 pedidos de ajuda por dia.

Após breves entrevistas, para a maioria dos alunos se agenda uma consulta mais longa com um psicólogo, que leva ao tratamento individual.

Um aluno em cada seis não se torna paciente, sendo indicado a outros departamentos da universidade, como aconselhamento acadêmico, ou a terapeutas fora do campus, caso seja necessária ajuda de longo prazo.

O aconselhamento no campus é gratuito.

Naquele dia, os alunos incluíam um jovem rapaz que se queixava de não ter amigos, sentindo-se deprimido.

Outro estudante disse ter dificuldades acadêmicas e temer que os pais descobrissem que ele bebe, sentindo-se desanimado.

Profissionais de um centro de saúde mental estão atentos ao seu próprio bem-estar.

Por esta razão, a equipe tinha planejado um almoço de final de ano.

Enquanto um peru era assado na cozinha que serve como sala de descanso, Espósito ajudava a esquentar o doce de batata doce, o recheio e a quiche que ela mesma tinha trazido.

Então Regina Frontino, assistente de triagem que recebe os alunos na recepção, entrou na cozinha para dizer que uma aluna tinha sido trazida por um amigo que temia que ela pensasse em se matar.

Espósito correu para o saguão.

Depois de uma breve conversa, ela soube que a aluna perturbada teria de ir ao hospital.

O centro de aconselhamento não tem a capacidade de receber alunos suicidas ou psicóticos durante a noite para observação ou administrar drogas poderosas para acalmá-los.

Ele faz com que os alunos sejam levados ao Stony Brook University Medical Center, quase na saída do campus de 405 hectares.

O hospital possui uma emergência psiquiátrica que funciona 24 horas por dia e atende a todo o contado de Suffolk.

"Eles não vão consertar o que está errado", disse Espósito, "mas naquele momento podemos garantir que ela está segura".

Ela chamou Tracy Thomas, conselheira de plantão, para acalmar a aluna, que chorava compulsivamente, enquanto telefonava para a emergência e informava a Hwang, que chamou a polícia do campus para transportar a jovem.

Apesar dos muitos agendamentos no livro de consultas dos conselheiros da Stony Brook, todas as evidências nacionais sugerem que muito mais alunos precisam de serviços de saúde mental.

Quarenta e seis por centro dos estudantes universitários disseram sentir que "as coisas são desanimadoras" pelo menos uma vez nos últimos 12 meses, e quase um terço deles esteve tão depressivo que teve dificuldade em realizar suas atividades, de acordo com uma pesquisa de 2009 da Associação Americana de Saúde Universitária.

Além disso, dos 133 estudantes suicidas reportados na pesquisa da Associação Americana de Aconselhamento Universitário com 320 instituições, de 2009, menos de 20 buscou ajuda no campus.

Alexandria Imperato, 23 anos, se lembra que, como caloura da Stony Brook, todos os seus amigos da escola falavam de como adoravam a faculdade, enquanto ela se sentia péssima.

Ela enfrentava problemas familiares e a pressão para se adaptar à faculdade.

"Você volta para casa para o jantar do dia de Ação de Graças e sua família pergunta ao seu irmão como vai o ratinho dele.

Para você, perguntam: 'O que vai fazer pelo resto de sua vida?'", disse Imperato. Ela soube que tinha depressão.

No final, acabou vencendo a doença com psicoterapia, Cymbalta e lítio.
Ela formou um capítulo na Stony Brook da Active Minds, um grupo nacional de prevenção ao suicídio baseado em campi universitários.

"Me senti muito melhor de encontrar outras pessoas", disse Imperato, que planeja ser enfermeira.

Recentemente, ela era um dos 24 alunos voluntários que usavam uma camiseta preta dizendo "Relaxe", que paravam pessoas no Centro de Atividades Estudantis durante o horário de almoço.

"Você gostaria de fazer um teste para depressão?", eles perguntavam, oferecendo uma prancheta com um formulário de uma página para todos os alunos que tiravam o fone de ouvido.

Os alunos marcavam os quadradinhos se tinham dificuldade de dormir, sentiam desânimo ou "sensação de inutilidade".

Eles recebiam uma oportunidade de falar em particular com um psicólogo num escritório ali perto. Dezesseis alunos concordaram em fazê-lo.

Uma aluna que disse "sim" a uma entrevista imediata com um conselheiro depois de preencher o teste para depressão era estudante do último ano de psicologia, do norte de New York.

Hwang percorreu o centro de aconselhamento para verificar os testes, e a jovem passou muito tempo conversando com ela, sem tirar o casaco xadrez e a mochila. "Não tenho mais motivação para as coisas", disse a aluna. "Este lugar me deprime o tempo todo".

Ela não sabia que os alunos podem ir ao centro de aconselhamento sem horário agendado. "Achei que tivesse de marcar uma hora", ela disse. "Agora vou vir".

© 2010 New York Times News Service
http://br.noticias.yahoo.com/s/03012011/84/mundo-alunos-estressados-ansiosos-depressivos-recorrem.htm

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