quarta-feira, 14 de abril de 2010

Pesquisas com alucinógenos voltam a ser feitas nos EUA

Os cientistas norte-americanos ganharam permissão para estudar novamente o potencial de substâncias alucinógenas para tratamento de problemas mentais e entender a natureza da consciência. Os alucinógenos se tornaram um tabu entre as agências reguladoras norte-americanas após entusiastas como Timothy Leary tê-los promovido na década de 1960 com o slogan "Se Ligue, Sintonize e Caia Fora".

Como psicólogo clínico, Clark Martin estava bem familiarizado com os tratamentos tradicionais para depressão. Entretanto, um câncer no rim parecia intratável, mesmo com as intensas sessões de quimioterapia e outras terapias exaustivas. O aconselhamento parecia inútil para ele e as pílulas antidepressivas que ele testava também não funcionavam.

Nada teve um efeito duradouro até que, aos 65 anos, ele passou por sua primeira experiência psicodélica. Clark Martin participou de um experimento na escola médica da Universidade Johns Hopkins envolvendo a psilocibina, substância psicoativa encontrada em algumas espécies de cogumelos.

Após tomar o alucinógeno, Martin colocou um tapa-olho, fones de ouvido e se deitou em um sofá ouvindo música clássica enquanto contemplava o universo.

"De repente, tudo o que me era familiar começou a evaporar", lembra-se Martin. "Imagine você caindo de um barco em mar aberto. Aí você se vira e nota que o barco desapareceu. Então a água some. E aí você desaparece".

Hoje, mais de um ano depois, Martin afirma que aquela experiência de seis horas o ajudou a superar sua depressão e transformou profundamente seus relacionamentos com sua filha e amigos. Ele classifica esse momento como um dos eventos mais significativos da sua vida, que o torna membro típico de um clube crescente de voluntários em experimentos psicodélicos.

Pesquisadores de todo o mundo se reuniram na última semana em San José na maior conferência sobre a ciência psicodélica já realizada nos Estados Unidos. Eles debateram estudos sobre a psilocibina e outras substâncias psicodélicas para tratar depressão em pacientes com câncer, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), ansiedade do fim da vida, distúrbio de estresse pós-traumático e vício em drogas ou álcool.

Os resultados até agora são animadores, mas, também, preliminares. Os pesquisadores advertem que é um erro tentar achar sentidos escondidos nesses estudos em pequena escala. Eles não querem repetir os erros dos anos 1960, quando alguns cientistas, transformados em evangelistas, exageraram no entendimento sobre os riscos e os benefícios das drogas.
Como as reações aos alucinógenos podem variar dependendo da configuração dos testes, os pesquisadores e comitês de revisão desenvolveram diretrizes para estabelecer um ambiente confortável com monitores experientes para lidar com as reações. Os novos padrões podem fazer com que os efeitos das drogas sejam avaliados mais corretamente.

Traduzido por André Luiz Araújo
JOHN TIERNEY - THE NEW YORK TIMES
http://www.otempo.com.br/otempo/noticias/?IdNoticia=138428

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