quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Filhos de pais que cometem suicídio também estão em risco de sofrer desordens psiquiátricas

Autora: Barbara Boughton

Crianças com menos de 18 anos cujos pais cometeram suicídio tem 3 vezes mais chances de morrer por suicídio do que aquelas com parentes vivos, de acordo com um estudo coorte retrospectivo conduzido na Suécia.

O estudo foi o maior estudo que examinou os fatores de risco para suicídio e desordens psicológicas entre aqueles que são sobreviventes do suicídio parental, como prole de pais que morrem por doença ou acidentes. Esse resultado indica de que maneira um pai morre e a idade da criança no momento da morte, e esses fatores têm um grande impacto nos resultados psicológicos posteriores.

"O modo de morte dos pais — particularmente o suicídio— bem como o período de desenvolvimento ou idade da prole quando ocorreu o falecimento de um dos pais tinha um impacto a longo prazo nos resultados psicológicos.

Nosso estudo aponta para a importância da conscientização e a necessidade de monitoramento do risco para sintomas psiquiátricos adversos entre crianças que perdem seus pais em razão do suicídio e referindo jovens sobreviventes de suicídio dos pais para tratamento psiquiátrico se necessário,” disse o pesquisador, o Dr.Holly Wilcox, professor assistente epidemiologista psiquiátrico no Johns Hopkins Children’s Center in Baltimore, Maryland.

No estudo, os investigadores comparam suicídios, hospitalizações psiquiátricas e condenações por crimes violentos durante 30 anos em mais de 500.000 crianças suecas, e jovens adultos que perderam um dos pais para o suicídio doença ou acidente.

Esses resultados foram comparados com aqueles de 4 milhões de crianças e jovens adultos com pais vivos.O estudo descobriu que aqueles que perderam seus pais para o suicídio tinham um maior risco de hospitalização para todos os tipos de desordens psiquiátricas a tentativas de suicídio do que a prole de pais vivos (ratio de incidência [IRR], 1,3 – 1,9).

Crianças com menos de 13 anos que perderam os pais para doença não tiveram um risco aumentado para suicídio. Mas todas as crianças que experimentaram a morte de um dos pais tinham mais chances de necessitar de hospitalizações em razão de tentativas de suicídio, depressão, droga e uso de álcool, psicose, e desordens de personalidade do que a prole de parentes vivos (IRRs variando de 1.3 a 1,9 até a idade de 25 anos).

Os pesquisadores concluíram que o risco para suicídio e desordens psicológicas foi maior entre aqueles que experimentaram suicídio dos pais na infância ou adolescência. Aqueles que perderam seus pais para o suicídio como jovens adultos, não tinham um risco aumentado para o suicídio se comparados com aqueles que tinham pais vivos (IRR, 1,3; 95% e intervalo de confiança, 0,9 – 1,9).

Prole que perdeu um dos pais para o suicídio durante a infância também tinha mais chances de experimentar o uso de drogas e desordens psicóticas do que aqueles que perderam um dos pais para o suicídio durante o início da vida adulta (interação P = 0,04 e P = 0,04).

Apesar de aqueles que experimentaram a morte de um pai com menos de 26 anos tiveram um maior risco de ter convicções criminais violentas do que aqueles com parentes vivos (IRR, 1,2 – 1,6), o modo da morte não parecia fazer muita diferença se a prole estava convicta de um crime violento.

"Nós esperamos achar que os sobreviventes de suicídio tiveram um risco aumentado para convicções criminais violentas," disse o Dr. Wilcox. Esse resultado pode sugerir que os traços agressivos e impulsivos são menos ligados fortemente ao suicídio do que pesquisa anterior sugeriu apesar de convicções clínicas violentas são apenas uma medida de tais traços, ele adicionou.

Apesar de os resultados do estudo ser impressionantes, o Dr. Wilcox chama atenção para o fato que a taxa de suicídios completos em sobreviventes ainda é baixa — cerca de 3%. "Suicídio é um resultado bastante raro ate mesmo nessa população de risco," ela disse.

"O tamanho do estudo é tão substancial que os investigadores foram capazes de demonstrar alguns achados muito cruciais sobre a prole de um pai que comete o suicídio," comentou Matthew Biel, professor assistente e diretor de psiquiatria de crianças e adolescentes no Georgetown University Hospital, Washington, DC.

"O estudo dá forte evidência que o suicídio dos pais é um fator muito importante na saúde mental a longo prazo da prole, e os esforços necessitam ser realizados para identificar as intervenções mais efetivas que irão suportar o ajuste e o desenvolvimento a longo prazo de crianças e adolescentes com pais que cometeram suicídio,” ele disse.

O estudo teve algumas limitações importantes, contudo. Como foi conduzida na Suécia, que tem o tratamento de saúde universal e onde os níveis de renda são altos comparados com aqueles em outros países, os achados podem não se aplicar a outras populações, disse o Dr. Wilcox.
Como os pesquisadores usaram dados registrados, eles apenas incluíram resultados de pacientes tratados em cenários hospitalares, e eles também excluíram pacientes com hospitalizações psiquiátricas anteriores.

"Essas limitações podem ser resultantes de uma estimativa de risco mais conservativa do que é realmente o caso," comentou a Dra. Manpreet Kaur Singh, professora assistente de psiquiatria no Department of Psychiatry and Behavioral Sciences na Stanford University School of Medicine na California.

Dr. Singh notou que poucos estudos olharam para a efetividade das intervenções para risco de suicídio entre as crianças de pais que cometeram suicídio. “Nós não tempos evidencia que uma intervenção cedo possa funcionar, mas intuitivamente é algo que pensamos que irá pagar dividendos para essas crianças," ela disse.

Tais intervenções incluem base individual ou aconselhamento familiar para ajudar crianças através do processo de luto e a avaliação sendo realizada para doenças psiquiátricas. "Em crianças, os primeiros sintomas de estar em risco para a doença psiquiátrica são declínios na função — na escola, em relacionamentos aos pares, ou relações de família" ela disse.

"Quando você vê um lapso no funcionamento, você tem que engajar a família em uma conversação sobre os riscos e benefícios do tratamento, "adicionou a Dra. Singh.

J Am Acad Child Adolesc Psychiatry. 2010;49:514-523.

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