Aumentam os problemas relacionados à saúde pública na região, por conta do aumento do consumo de drogas legais e ilegais.
Na zona rural e urbana o tabaco, álcool e o crack estão entre as drogas mais utilizadas, assim como tem aumentado os registros de apreensões de grandes quantidades de entorpecentes em cidades que até recentemente não se ouvia falar do problema.
“Em Botucatu, apenas a DISE, sem incluir as ocorrências da PM, foram apreendidas em 2009, cerca de 108 mil porções de entorpecentes, sendo aproximadamente 90 mil porções de crack e cocaína, 18 mil de maconha e 210 comprimidos de ecstasy”, informou o delegado Paulo Buchignani.
O crack apesar de ser apresentado como droga barata é muito dispendiosa ao usuário, que desembolsa cerca de R$ 15,00 por pedras de 0,3 gramas, suficientes para fumar duas ou três vezes, com efeito médio por 10 minutos.
Para enfrentar esse problema de saúde pública, as Secretarias de saúde do Município e Estado, com a Faculdade de Medicina estão desde o ano passado lutando pela instalação de um hospital para atendimento aos dependentes químicos, álcool e tabaco na cidade.
Segundo o professor José Manoel Bertolote, colaborador do Departamento de Neurologia, Psicologia e Psiquiatria da Faculdade de Medicina, está adiantada a instalação do Serviço Hospitalar de Referência, em um antigo motel, na rodovia Marechal Rondon, que atenderá pacientes das sub-regiões da DRS de Bauru, em Botucatu e Avaré.
Bertalote por 19 anos atuou na sede da Organização Mundial de Saúde, em Bruxelas. Ele explicou ao Diário como está o processo de instalação da unidade regional e a dificuldade existente para esse tratamento.
Qual a razão da demora na instalação do centro de recuperação? Aquele motel às margens da rodovia Marechal Rondon, continua em pauta?
José Manoel Bertolote - O problema da atenção aos usuários e dependentes de drogas é bastante complexo e não imagino que um centro de recuperação resolva o problema. Essa atenção deveria ser prestada em todos os níveis de assistência à saúde existente no Município com cuidados gerais, que deveria identificar os casos, tratar os de menor complexidade e encaminhar os de maior complexidade ao nível secundário e o de cuidados especializados. É o caso do Centro de Atenção Psico Social – álcool e droga, (CAPSad) em pleno funcionamento, porém com sua capacidade assistencial no limite. Os esforços para a ampliação do CAPSad e sua transformação em CAPSad-III, que prevê, além de sua função ambulatorial principal, a admissão de pacientes por breves períodos para desintoxicação, já estão avançados, porém esbarram no que parece ser um elemento prosaico, a inexistência em Botucatu de imóveis comerciais para essa finalidade. Tal serviço precisa ser instalado em região de fácil acesso, bem servido por transporte público. Em virtude das características de seus usuários potenciais, precisaria ter, no mínimo, quatro quartos separados por sexo para pacientes adultos e adolescentes, além das demais dependências necessárias para o funcionamento do serviço. Apesar dos esforços, um imóvel com essas características não foi encontrado. Em contato recente com um funcionário do Ministério da Saúde, fui informado que esse é um problema comum à maioria das cidades brasileiras de médio e pequeno porte e que dificulta sobremaneira a ampliação da rede de cuidados especializados em saúde mental.
O que teria em mais um CAPS álcool e drogas?
José Manoel Bertolote - Com o terceiro CAPSad teremos cuidados especializados ambulatoriais e internações de um a sete dias, mas faltam ainda os cuidados especializados, secundários e terciários, que implicam internações mais prolongadas. É aqui que entra o Serviço Hospitalar de Referência, para dependentes químicos, (SHR). Como o nome indica, é um serviço hospitalar para internações breves, de 7 a 28 dias, de pacientes com dependência de álcool ou outras drogas.
E como está a instalação do Serviço Hospitalar de Referência, será regional?
José Manoel Bertolote - Uma Comissão Técnica visitou um motel desativado, na rodovia Marechal Rondon, que reúne características adequadas para a instalação desse Serviço Hospitalar, dependendo apenas de alguns acertos arquitetônicos. Diante disso, foi preparado, pelo Departamento de Neurologia, Psicologia e Psiquiatria da Faculdade de Medicina, um projeto técnico para o funcionamento do Serviço, bem como as sugestões de reforma do prédio. O projeto foi entregue à Diretoria Regional de Saúde de Bauru, pois deverá atender também pacientes da sub-região de Avaré e Botucatu. Neste momento, a Engenharia da Prefeitura de Botucatu está orçando o custo das reformas. Acredito que esse projeto esteja adiantado em uma ou duas semanas teremos novidades. Esse motel é ponto fechado na Comissão.
Que tipo de funcionários seriam contratados?
José Manoel Bertolote - O Serviço Hospitalar de Referência terá um corpo clínico especializado e necessário em um serviço de internação para pacientes com esse diagnóstico: médicos clínicos e psiquiatras, pessoal de enfermagem, psicólogos, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, professores de educação física e encarregados de oficinas. Todo esse pessoal deverá ser contratado por uma organização tipo OS, com fundo do Estado.
O senhor tem experiência internacional na área. Tal hospital de recuperação resolve o problema do doente químico? Dizem, muitas vezes, que o tratamento tem de ser para o doente e a família, isso é verdade?
José Manoel Bertolote - É verdade. A participação da família é essencial no processo de recuperação de dependentes. O Serviço Hospitalar não resolve todo o problema, mas é peça fundamental da rede de atenção á saúde desses pacientes. Esse serviço, ou qualquer outro, só pode tratar pessoas que queiram ser tratadas, o que é a minoria dos casos, infelizmente. Acontece mais freqüentemente é um familiar querer que a pessoa seja tratada, porém ele ou ela não aceita o tratamento. Neste casos, a equipe técnica não pode fazer nada. Por ser um serviço especializado é para tratamento de dependentes e não para simples usuários de álcool ou outras drogas.
Em Botucatu percebemos que a dependência química de drogas ilegais como crack, cocaína, maconha e anfetaminas são altas, mas os problemas com as drogas legais são maiores, como o álcool e tabaco. Menores de 15 anos já são vistos bêbados em baladas...
José Manoel Bertolote - Não só em Botucatu, mas na maior parte do mundo ocidental, o álcool e o tabaco são os verdadeiros problemas de saúde pública. As conseqüências, físicas, psíquicas e sociais, nefastas apenas do álcool são, no mínimo, dez vezes maiores e mais graves que de todas as demais drogas reunidas, com exceção do tabaco. A venda de bebidas alcoólicas a menores no “pontos de balada” atingiu tais proporções que deveria suscitar uma intervenção das autoridades sanitárias, policias e judiciais do Município.
O senhor tem idéia da dimensão da quantidade dos usuários de drogas Legais e ilegais em Botucatu ?
José Manoel Bertolote - Em 2009, o Departamento de Neurologia, Psicologia e Psiquiatria da Medicina concluiu um importante inquérito sobre o uso de drogas lícitas e ilícitas por estudantes do ensino fundamental e médio em Botucatu, nas escolas municipais, estaduais e particulares. No ensino fundamental, a média de usuários regulares de álcool foi de 39%, 4% para o tabaco e 2% para todas as demais drogas reunidas. No ensino médio, as médias foram de 73,5% para o álcool, 16% para o tabaco e 7% para todas as demais drogas reunidas. A coordenadora desse estudo foi a professora Florence Kerr-Corrêa, que realizou anteriormente outro inquérito com adultos de Botucatu e Rubião Jr, de cujos dados não disponho, no momento.
http://www.entrelinhas.com/portal/index.php?CAT=18&DET=14121
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