quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Material Informativo - Álcool e Drogas


Ministério da Saúde - Aqui você encontra materiais de apoio construídos com base em conhecimentos científicos atualizados, que podem subsidiar iniciativas voltadas à prevenção e a recuperação de usuários de crack e outras drogas. 
LINK: 

quarta-feira, 25 de julho de 2012

UNISA - Especialização em Enfermagem Psiquiátrica e Saúde Mental

Curso ministrado aos Sábados - QUINZENALMENTE


Datas importantes:


Inscrição: até 26/7/2012


Seleção e convocação para matrícula: de 27 a 28/7/2012 


Matrículas: de 29/07 à 1/8/2012


Inicio das aulas: 4/8/2012


Carga horária
417 horas

Duração
18 meses

Supervisão do Curso
Profa.Cláudia Polubriaginof

Local e horário de realização
Campus II - Rua Isabel Schmidt, 349 - Santo Amaro. São Paulo-SP.
Sábados, das 8h às 17h (encontros quinzenais)

Valor do investimento
18 parcelas de R$ 399,00

Taxa de inscrição
R$ 25,00 


Informações: 
http://www.unisa.br/pos/especializacao/enfermagem/309133apr.shtml

quarta-feira, 18 de julho de 2012

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Quando os santos de casa realizam seus milagres

Na intercessão entre a psiquiatria e a antropologia, livro reúne ensaios e artigos de Antônio Mourão
Desde pequeno, Antônio Mourão gostava de ouvir histórias de vida. Ainda menino, durante as visitas à família do pai, em Crateús, passava parte do tempo na mercearia de um tio homeopata, que, segundo se dizia na vizinhança, escolhia o composto adequado.

Tais experiências, embora precoces, certamente influenciaram o caminho profissional de Mourão, que não apenas se tornou médico (e escolheu a psiquiatria como especialidade), mas trilhou caminhos pouco ortodoxos dentro do campo, a partir de uma segunda formação, em Antropologia. Após formar-se em medicina na Universidade Federal do Ceará, concluiu estudos na famosa Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, de Paris (França).

Parte dessa trajetória pode ser conhecida no livro “Psiquiatria – Outros olhares”, a ser lançado hoje, na Livraria Cultura. Nele, Mourão explora principalmente os laços que unem a psique humana aos diferentes contextos socioculturais nos quais os sujeitos estão inseridos, a partir de uma abordagem denominada etnopsiquiatria. 

Segundo o autor do livro, esta corrente não se opõe à tradicional abordagem medicamentosa, mas a complementa.

A etnopsiquiatria (também chamada de psiquiatria social) fundamenta-se no reconhecimento das diferenças entre indivíduos, ao considerar tanto a dimensão psíquica quanto a cultural – nesse último caso, especialmente de aspectos relacionados às relações sociais, de identidade e de situações vividas ao longo da vida.

“Por exemplo, um paciente esquizofrênico do interior do Ceará não adoece do mesmo modo que um esquizofrênico em Tóquio, no Japão, embora a doença tenha um conteúdo genético. Enquanto o segundo pode falar que está sendo perseguido por monstros de jogos eletrônicos, o primeiro pode relatar demônios ou entidades da cultura popular”, explica Mourão “Outra diferença: já tratei padres e freiras com depressão. Eles choram, lamentam, mas nunca falam em suicídio, por conta dos preceitos do catolicismo”, frisa o médico.

Mourão conheceu a etnopsiquiatria na Europa, onde estudou e trabalhou após formar-se em medicina. A primeira experiência foi no Hospital de Saint Luc, da Universidade Católica de Louvain, Bélgica, onde conheceu alternativas de tratamento que substituíam as práticas de uma psiquiatria então fundamentalmente asilar. No lugar de confinamento e eletrochoques, Mourão conheceu uma unidade de psiquiatria integrada a um hospital universitário, além de uma equipe integrada com aquelas de outras especialidades.

Paralelamente, conheceu o trabalho de George Devereux, que ministrava seminários de etnopsiquiatria em Paris. Anteriormente, já havia tido contado com os livros do professor François Laplantine, outro nome relevante na área.

Casos
A fim de tornar o conteúdo mais claro e acessível, Mourão tomou o cuidado de permear o livro com relatos de pacientes atendidos (com os nomes modificados ou suprimidos). Como, por exemplo, o de um jovem da Paraíba, que, aprovado em concurso público, mudou-se para a cidade cearense de Paracuru. “Lá, ele começou a adoecer, não dormia direito, tinha pesadelos e taquicardia. Tudo isso gerou ainda um desgaste na relação com a esposa”, lembra Mourão.

“Ele já tinha procurado um cardiologista e outros especialistas, quando chegou até mim. Em conversa, contou-me que sua família na Paraíba era umbandista, e que, antes de se mudar, ele estava se preparando para ser pai-de-santo. Em Paracuru, ao contrário, era um total desconhecido. Sugeri, então, que ele abrisse seu terreiro na cidade. Os olhos do jovem chega brilharam. Eventualmente, quando montou o espaço, os sintomas desapareceram”, conta o médico.

Segundo Mourão, o relato demonstra a relevância peculiar da religião na vida do povo brasileiro. “A cultura tem ferramentas que, se corretamente utilizadas, ajudam a pessoa a ficar integrada e de bem com ela mesma e com os outros. A religião é uma delas”, comenta o médico.

Em outra passagem, na introdução do livro, o psiquiatra recorda a ocasião em que questionou a ausência de leitos com rede para pacientes nordestinos, no lugar da tradicional cama hospitalar. “No Nordeste, dorme-se muito de rede, ao ponto de alguns pacientes internados ficarem com medo de cair da cama e isso interferir na qualidade do sono. Tanto que vi inúmeras vezes médicos incluirem no prontuário remédios para eles dormirem”, conta. “É um detalhe que revela como a cultura tem a ver com a dimensão emocional”, complementa.

Compilação
Outro capítulo importante do livro trata da terapia familiar sistêmica, segundo a qual é indispensável observar o todo e não as partes do sistema familiar, e com a qual Mourão teve contato aprofundado também na Bélgica. Lá fez parte da primeira turma da terapeuta de família Mony Elkaim.

Por fim, no terceiro capítulo, Mourão aborda alguns temas atuais no campo da psiquiatria, como a perda e o luto, a erotização precoce de crianças e as drogas. Boa parte dos textos do livro é oriunda de artigos publicados ao longo dos anos de carreira do autor na revista eletrônica Psychiatry On Line Brasil. “Mas muitas pessoas me pediam cópias impressas, então resolvi juntar tudo em um livro, acompanhado de uma introdução, onde resumo meu itinerário profissional”, detalha.

De fato, é na introdução onde melhor resume a essência da obra. “Uma parte de mim não acredita em pai-de-santo, em umbanda, em rezadeira, isso enquanto sou psiquiatra. Pois é uma ciência que tem suas referências. Mas, como sou brasileiro, nordestino, do Ceará, não posso desconhecer essa realidade. Eu tenho que saber que caminho com essas duas identidades. Uma não precisa destruir a outra”, expressa no texto.

Segundo ele, o livro destina-se a tanto aos profissionais quanto às pessoas que gostam do assunto, no sentido de “vislumbrar outros olhares, em vez de ficar preso unicamente à questão medicamentosa, à psicofarmacologia”, complementa na entrevista.

LIVROPsiquiatria – Outros olhares
Antônio Mourão Cavalcante
Cia. dos Livros Editora
2012, 184 páginas
R$ 39,90

Mais informações:
Lançamento de "Psiquiatria – Outros olhares". Hoje, às 19 horas, na Livraria Cultura (Av. Dom Luís, 1010, Meireles – Shopping Varanda Mall). Contato: (85) 4008.0800

Adriana MartinsRepórter

domingo, 8 de abril de 2012

Quem foi Nise da Silveira?

Psiquiatra e Psicoterapeuta alagoana (15/2/1905-30/10/1999). Pioneira no uso da pintura, escultura e modelagem nos tratamentos psiquiátricos no país, cria o Museu de Imagens do Inconsciente, em 1952, com o mais original acervo de obras de arte produzidas por psicopatas.
Nascida em Maceió, forma-se em medicina na Bahia em 1926, mudando-se em seguida para o Rio de Janeiro, onde ingressa, por concurso, no Serviço de Assistência a Psicopatas e Profilaxia. Trabalha como residente no Instituto de Neurologia Deolindo Couto e depois se transfere para o Centro Psiquiátrico Pedro II. Denunciada em 1936 como simpatizante do Partido Comunista, passa 16 meses na prisão.

Libertada, volta ao Pedro II e rejeita as agressivas terapias psiquiátricas ali utilizadas até então. Dirige a Seção de Terapêutica Ocupacional e Reabilitação, orientada pelas teses do psicanalista Carl Gustav Jung, a quem conheceu pessoalmente em 1957. Em 1956 funda a Casa das Palmeiras, clínica para o tratamento em regime aberto de pacientes psiquiátricos.

Ao utilizar a pintura, a escultura, a modelagem e a carpintaria, descobre que, mesmo quando a personalidade do paciente se desintegra, ele mantém em seu psiquismo um estímulo para a produção de imagens. Sua terapia humanizadora ainda inclui o convívio dos doentes com cães e gatos, provando que a afetividade não é anulada pelo problema mental.

Publica, entre outros trabalhos, uma biografia de Jung, o ensaio Imagem, Ação, Afeto e o livro Imagens do Inconsciente. Em 1998, aos 93 anos, lança a obra Gatos, A Emoção de Lidar, sobre seus animais preferidos. Morre de insuficiência respiratória no Rio de Janeiro.


Mais sobre Nise da Silveira:

Vale a pena!

NISE DA SILVEIRA – SENHORA DAS IMAGENS, a peça estende até 26 de abril suas apresentações no Teatro Eva Herz (Avenida Paulista 2.073, Livraria Cultura | Conjunto Nacional).

Fone bilheteria: 11 3170-4059 Site: www.teatroevaherz.com.br  e www.ingresso.com 

Ingresso: R$50,00. Meia-entrada para estudantes, idosos, professores da rede pública de ensino e portadores de necessidades especiais

Horário de atendimento da bilheteria: de Terça a sábado: das 14h às 21h e domingos: das 12h às 19h

sábado, 7 de abril de 2012

Curso - Psicofarmacologia para profissionais não-médicos

Reencarnação e Psicoterapia: como abordar eticamente as crenças espirituais dos pacientes que buscam psicoterapia?

Segundo Data Folha 37% das pessoas no Brasil acreditam em reencarnação e conforme World Values Survey esta crença é professada por grande parte da população mundial, que naturalmente podem procurar psicoterapia
 
A crença na reencarnação – envolve um ciclo contínuo de aprendizado e evolução através das vidas sucessivas – é encontrada ao longo da história humana em diferentes épocas e culturas. Deste ponto de vista, as dificuldades são transitórias e podem ser superadas quando suas lições que as adversidades trazem são absorvidas.
 
O psicólogo clínico e doutor em Neurociência e Comportamento pela USP, Julio Peres, publicou há dois dias o artigo “Should psychotherapy consider reincarnation?" no Journal of Nervous and Mental Disease (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22297317). “Há um crescente reconhecimento da necessidade de se levar em conta o ambiente cultural e os sistemas de crenças dos pacientes na psicoterapia. Respeitar as opiniões e realidades subjetivas do paciente é uma necessidade terapêutica e um dever ético, mesmo que os profissionais não compartilhem das mesmas crenças”, explica.
 
Em todo o mundo há um grande número de pessoas que crêem na reencarnação. Segundo dados do World Values Survey, tal crença é professada por 22,6% da população nos países nórdicos, 27% na Europa Ocidental, 20,2% na Europa Oriental; já nos Estados Unidos o número chega a 27% (Gallup, 2003) e no Brasil a 37% (Data Folha, 2007). Parte importante da cultura, as crenças religiosas têm papel importante na formação de juízos e no processamento de informações, auxiliando muitas pessoas a organizarem ou compreenderem eventos dolorosos, caóticos e imprevisíveis que podem gerar sintomas diversos como Fobias Específicas e Transtorno de Estresse Pós-Traumático.
 
A inclusão de “problemas religiosos ou espirituais” como categoria diagnóstica no DSM-IV (American Psychiatric Association, 1994) reconhece que os temas religiosos e espirituais podem ser foco da consulta psiquiátrica/psicológica. “Estar confortável para abordar com o paciente temas sobre espiritualidade e religiosidade como a reencarnação é o primeiro de uma série de passos para que o processo terapêutico siga as diretrizes éticas”, postula o psicólogo clínico.
 
“A integração da crença reencarnacionista durante a psicoterapia requer profissionalismo, conhecimento e capacidade de alinhar as informações coletadas sobre os valores do paciente para o benefício do seu processo terapêutico. Questionamentos como psicólogos e psiquiatras devem discutir reencarnação com seus pacientes?, quais são os limites profissionais quando temas religiosos e/ou espirituais são trazidos? foram esclarecidos”, afirma Julio Peres.
 
Recentemente um artigo no The New York Times (Lisa Miller) afirmou que o interesse na reencarnação está em ascensão, e os responsáveis pela divulgação não são monges ou teólogos, mas terapeutas. “Esta notícia nos indica uma abertura terapêutica saudável, mas também uma preocupação com ‘falsos-terapeutas’ que não possuem um treinamento clínico adequado para conduzir a psicoterapia”, ressalta Julio Peres. “Atribuir significados aos sintomas de ansiedade, desajuste, fobia específica ou estresse pós-traumático, alinhados aos conteúdo de supostas vidas passadas – se essa for a crença do paciente – podem favorecer a atenuação ou libertação dos sintomas.”
 
As práticas religiosas que envolvem a reencarnação, por exemplo, desempenham um papel ativo no desenvolvimento de mecanismos saudáveis de enfrentamento por refugiados tibetanos. Não tão distante, uma engenheira de 38 anos e mãe de três filhos, se sentia incapaz de se relacionar com um deles. “Ela não conseguia expressar afeto e evitava o contato com essa criança, sem compreender as causas deste distanciamento. Por acreditar na reencarnação e no fato que ‘somos um pai ou um filho nesta vida por alguma razão’, buscou algumas abordagens psicoterápicas até sentir que sua crença em relação à reencarnação era aceita. Ao sentir confortável para expor suas dificuldades com seu filho relacionando-as com o que acreditava, a paciente conseguiu se ouvir, gerar novos comportamentos e um equilíbrio na relação com o filho durante o processo terapêutico”, exemplifica Julio Peres. “Porém, para que isso acontecesse foi preciso entender a relação entre os sintomas apresentados por ela, as crenças na reencarnação e o significado da evolução espiritual para a paciente.”
 
O Conselho Federal de Psicologia (CFP), em nota pública sobre Psicologia e religiosidade no exercício profissional à sociedade e aos psicólogos, esclarece que “Não existe oposição entre Psicologia e religiosidade, pelo contrário, a Psicologia é uma ciência que reconhece que a religiosidade e a fé estão presentes na cultura e participam na constituição da dimensão subjetiva de cada um de nós.” 

Portanto, assim como qualquer pessoa pode procurar tratamento psicológico alinhado aos seus valores e crenças, a reencarnação deve ser levada em conta pelos psicoterapeutas, que devem procurar formação adequada em abordagens coerentes e eficazes sem misticismo ou práticas divinatórias. “As informações obtidas na psicoterapia devem ser sobre o que os pacientes acreditam, o que exige conhecimento de estratégias objetivas para otimizar o enfrentamento das dificuldades com base neste sistema de crenças”, ressalta Julio Peres, psicólogo clínico e doutor em Neurociência e Comportamento pela USP. O artigo “Should psychotherapy consider reincarnation?" é a primeira publicação científica sobre a interface equilibrada entre reencarnação e psicoterapia, que também oferece contribuições ponderadas em tópicos que discutem os riscos e as contraindicações.

DANIELLE FLÖTER

Julio Peres
 
Psicólogo clínico e Doutor em Neurociências e Comportamento pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Fez Pós-doutorado no Center for Spirituality and the Mind, University of Pennsylvania e na Radiologia Clínica - Diagnóstico de Imagem pela UNIFESP. Autor de estudos que investigaram os efeitos neurobiológicos da psicoterapia através da neuroimagem funcional (Psychological Medicine 2007 e Journal of Psychiatric Research 2011). Pesquisador do Programa de Saúde, Espiritualidade e Religiosidade (PROSER) do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo e Professor Titular de Psicotraumatologia Clínica do Hospital Pérola Byington. Autor de artigos científicos sobre psicoterapia, trauma psicológico, espiritualidade/religiosidade, reencarnação, resiliência, superação e dos livros "Trauma e Superação: o que a Psicologia, a Neurociência e a Espiritualidade ensinam" editora ROCA (www.julioperes.com.br), e "Neuroimaging for Clinicians: Combining Research and Practice" Ed. InTech (http://www.intechweb.org/books/show/title/neuroimaging-for-clinicians-combining-research-and-practice).

Ayahuasca provoca visões “realistas

Em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, 10 veteranos frequentadores do Santo Daime se reúnem para tomar Ayahuasca em grupo, como fazem há anos. Normalmente, eles usam a droga alucinógena em rituais religiosos, com cânticos e louvações. A bebida, feita a partir da mistura de um cipó e das folhas de um arbusto amazônico, produz um efeito alucinógeno e costuma causar visões e experiências místicas em seus usuários. O ritual tem origem indígena – a bebida era consumida pelos povos da floresta em cerimônias desde tempos ancestrais. 


Só que, desta vez, o ritual não tem nada de ancestral. Eles estão em um laboratório científico. Ao invés das músicas, o único barulho na sala vem de uma máquina de ressonância magnética, onde os usuários são colocados antes e depois de ingerir a bebida. Enquanto sentem sua percepção se alterar e começam a ter alucinações, um grupo de cientistas analisa imagens que representam as áreas de seu cérebro. Eles notam que a droga ativa o córtex visual primário, localizado no lobo occipital, área que tem papel fundamental para a visão. Para a surpresa dos pesquisadores, essa área ficou tão ativa quando o participante encarou fotografias quanto no momento em que ele ingeriu o Ayahuasca, fechou os olhos e teve visões. A imagem também mostrou o funcionamento de áreas ligadas à recuperação de memórias biográficas e à imaginação de futuros eventos. “Ao aumentar a intensidade das imagens lembradas ao mesmo nível da percepção visual, o Ayahuasca dá status de realidade a experiências internas”, diz Draulio de Araújo, pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, responsável pelo estudo. Veja a entrevista completa que a GALILEU fez com o pesquisador:

Como você teve acesso ao Ayahuasca usado na pesquisa? Outros cientistas também conseguiriam ter acesso à droga? 
Antes de ter acesso à Ayahuasca para a realização de qualquer pesquisa, é necessário que se tenha aprovação por algum comitê de ética em pesquisa (CEP). No nosso caso, o projeto foi aprovado pelo CEP do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto. Uma vez tendo essa aprovação, pode-se buscar parceria com igrejas que fazem uso do Chá, como a do Santo Daime, a União do Vegetal ou a Barquinha. Há alguns grupos realizando pesquisa com a Ayahuasca no Brasil, como, por exemplo, na USP de Ribeirão Preto, a Universidade Federal do São Paulo (UNIFESP), a Universidade Federal do Ceará, a Universidade Federal de Pernambuco e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Você concorda com a classificação do Ayahuasca como droga alucinógena? 
A Ayahuasca pode ser classificada como uma droga, sim, usando o entendimento de que ela contém substâncias químicas que alteram os mecanismos de neurotransmissão cerebral de forma direta. Baseado na mesma definição, também podemos incluir nesse conjunto o tabaco, o álcool, o café, e o chocolate. Como qualquer outra substância psicoativa, há algumas considerações importantes a serem feitas na avaliação dos riscos associados ao seu uso. A primeira diz respeito ao seu poder de dependência química. No caso da Ayahuasca, que age sobre o sistema serotonérgico, não há comprovação científica sobre a eventual dependência química causada pelo seu uso. O segundo, as alterações sobre o sistema nervoso autonômico. No caso da Ayahuasca, há evidências que as mudanças de pressão arterial, frequência cardíaca e respiratória, além da temperatura do corpo, permanecem dentro de limites considerados normais. Por outro lado, sabe-se que é importante evitar o uso da Ayahuasca nos casos em que o indivíduo esteja fazendo uso de medicamentos que alteram os níveis de serotonina, como é o caso de alguns anti-depressivos que estão baseados na inibição seletiva de recaptação de serotonina, por exemplo, o PROZAC.

Como foi feito o teste?

Realizamos duas sessões de imagem funcional por ressonância magnética (uma antes e outra após a ingestão de aproximadamente 200 ml de Ayahuasca) em 10 indivíduos experientes no uso do chá. A pergunta central desse primeiro estudo estava na compreensão da potencialização da geração de imagens mentais pelo uso da Ayahuasca. Durante as duas sessões os indivíduos permaneciam dentro de um equipamento hospitalar de imagem por ressonância magnética. Os dados desse primeiro experimento estão publicados na revista Human Brain Mapping.

Quanto aos resultados da pesquisa, o que significa o fato de as imagens mentais serem percebidas na mesma área cerebral que processa as imagens visuais? É isso que torna as visões tão realistas?

Esse é o tipo de especulação que pode ser feita: que a realidade das imagens geradas mentalmente seja a mesma das percebidas pela modulação do sistema visual. Porém, o nosso estudo não fornece elementos suficientes para garantir essa relação.

A atividade de áreas cerebrais relacionadas à memória pode explicar porque muitas dessas visões são tão significativas para os usuários do Ayahuasca?

Mais uma vez, essa é uma possível especulação, que o nosso trabalho não fornece elementos de garantia necessários. Uma frase do nosso artigo que traduz todas essas perspectivas é: “As visões induzidas pela Ayahuasca têm sido usadas tradicionalmente em contextos religiosos para dar acesso um mundo interno muito significativo. Nossos resultados indicam que essas visões vêm da ativação de uma rede de áreas cerebrais envolvidas com a visão, a memória e a intenção. Ao aumentar a intensidade das imagens relembradas ao mesmo nível da visão, o Ayahuasca dá um status de realidade a experiências internas. A partir disso, é possível entender por que o Ayahuasca foi selecionado culturalmente ao longo dos séculos pelos xamãs das florestas para facilitar revelações místicas de natureza visual.” 
Antes de sua pesquisa ser feita, qual era o nível das pesquisas brasileiras estudando o Ayahusca? 
Estudos com Ayahuasca no Brasil vêm sendo conduzidos há muito tempo, envolvendo principalmente aspectos farmacológicos e antropológicos do seu uso. Boa parte desses estudos deram contribuições significativas para a compreensão mais geral sobre a Ayahuasca e foram conduzidos em parcerias importantes com outros grupos no exterior. O nosso grupo tem abordagem que agrega técnicas da neurociência, em especial a imagem funcional por ressonância magnética. Outros estudos, envolvendo outras técnicas, como por exemplo a Eletroencefalografia, já haviam sido conduzidos, por pesquisadores de Florianópolis em conjunto com pesquisadores americanos.

O que o estudo dos efeitos de uma droga pode nos ensinar?

Esse estudo em particular pode ter várias implicações, além de ampliar a compreensão do nosso cérebro. Por exemplo, há bastante tempo temos argumentos e indícios de que a compreensão da consciência como um todo passa necessariamente por estudos envolvendo estados alterados de consciência.
por Guilherme Rosa

sexta-feira, 2 de março de 2012

Curso - Emergências Psiquiátricas

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Mais sobre os serviços disponíveis em Saúde Mental

Centro de Atenção Psicossocial – CAPS: Os CAPS são instituições destinadas a acolher os pacientes com transtornos mentais, estimular sua integração social e familiar, apoiá-los em suas iniciativas de busca da autonomia, oferecer-lhes atendimento médico e psicológico. Sua característica principal é buscar integrá-los a um ambiente social e cultural concreto, designado como seu território, o espaço da cidade onde se desenvolve a vida quotidiana de usuários e familiares.
  • CAPS I – Serviço de atenção a saúde mental em municípios com população: de 20 mil até 70 mil habitantes. Existem 788 unidades no país.
  • CAPS II – Serviço de atenção a saúde mental em municípios com população: 70 mil a 200 mil habitantes. Existem 424 unidades no país.
  • CAPS III – Serviço de atenção a saúde mental em municípios com população: 200 mil habitantes.Existem 56 unidades no país.
  • CAPS ad – serviço especializado para usuários de álcool e drogas. (de 70 mil a 200 mil habitantes). Existem 268 unidades no país.
  • CAPS i - serviço especializado para crianças, adolescentes e jovens (até 25 anos). Acima de 200 mil habitantes. Existem 134 unidades no país.
  • Serviços Residenciais TerapêuticosSRT: São casas localizadas no espaço urbano, constituídas para responder as necessidades de moradia de pessoas com transtornos mentais graves egressas de hospitais psiquiátricos ou hospitais de custódia e tratamento psiquiátrico, que perderam os vínculos familiares e sociais; moradores de rua com transtornos mentais severos, quando inseridos em projetos terapêuticos acompanhados nos CAPS. São 596 casas no Brasil, com 3.236 moradores.
  • Programa de Volta para Casa– PVC: Tem por objetivo garantir a assistência, o acompanhamento e a integração social, fora da unidade hospitalar, de pessoas acometidas de transtornos mentais, com história de longa internação psiquiátrica (02 anos ou mais de internação ininterruptos). É parte integrante deste Programa o auxílio-reabilitação, pago ao próprio beneficiário durante um ano, podendo ser renovado, caso necessário. São 3.832 beneficiários do PVC no país.
  • Leitos de Atenção Integral em álcool e outras drogas: São leitos de retaguarda em hospital geral com metas de implantação por todo o Brasil.
Escola de Redutores de Danos – ERD: As Escolas de Redutores de Danos do SUS tem como objetivo a qualificação da rede de serviços, por meio da capacitação teórica e prática de segmentos profissionais e populacionais da comunidade.

http://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/texto/2032/301/mais-sobre-os-servicos-disponiveis-em-saude-mental.html

CAPS desestruturou alta complexidade na saúde mental (?)

A Reforma Psiquiátrica brasileira, que completou 10 anos em 2011, foi importante para o país, pois instituiu a psiquiatria comunitária, ou seja, o atendimento do indivíduo dentro de sua comunidade, a começar pelo atendimento primário nas Unidades Básicas de Saúde (UBS).

Por Bruno de Pierro, da Agência Dinheiro Vivo


As mudanças, formalizadas em 2001 por meio da lei nº 10.216, colaboraram para a prevenção do agravamento de muitos distúrbios mentais, ao promover a discussão sobre a humanização do tratamento de distúrbios mentais, ancorada na luta antimanicomial. Contudo, o sistema precisa melhorar o acesso ao atendimento de fases agudas e críticas, o que deve ser feito em hospitais psiquiátricos, e não nos CAPS (Centros de Atenção Psicossocial). Essa é a avaliação do psiquiatra Mauro Aranha, presidente do Conselho Estadual de Políticas sobre Drogas (CONED-SP).

Em entrevista à Agência Dinheiro Vivo, Mauro disse que o CAPS foi idealizado para servir como uma referência de saúde mental, em todas as dimensões do tratamento envolvendo transtornos mentais persistentes, mas os centros ainda não tem condições de prestar atendimento integral à saúde mental de pessoas com problemas mais graves. “Nessa questão, a reforma desestruturou o pouco que havia de atendimento de alta complexidade em saúde mental”, argumentou o médico, que coordenou, entre 2008 e 2010, uma pesquisa que avaliou 85 CAPS do Estado de São Paulo, cerca de 40% da rede instalada.

“A vocação do CAPS, desde sua implantação, é de reabilitação psicossocial. Não é de atendimento em fases mais agudas da doença”. De acordo com Mauro, que também exerce a função de vice-presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP), o CAPS pode funcionar bem na reabilitação dos pacientes que, de maneira geral, saíram fase aguda da doença. “Quando pensamos em fase aguda e surto psicótico, temos que pensar em equipamentos de saúde mais aparelhados para isso, em termos não só de recursos físicos, como humanos. Idealmente, deveriamos internar esses casos mais agudos em unidades psiquiátricas de hospitais gerais, ou em clínicas psiquiátricas não manicomiais”.

Mauro conta que a reforma era uma reação à psiquiatria tradicional, mas foi uma reação mal equilibrada, porque desativou alguns equipamentos de saúde mental que funcionavam bem e que não eram manicomiais. Como exemplo, cita os ambulatórios de saúde mental; os hospitais-dia; e os leitos psiquiátricos em clínicas não-manicomiais. “A reforma chegou para arrasar, e arrasou tudo isso que era legítimo e funcionava bem. Aí o CAPS ficou como referência única de saúde mental”, criticou.

A doença mental tem várias etapas e várias fases, e cada fase tem um equipamento preferencial. A saúde mental não precisa de grande tecnologia, apenas de alguns recursos básicos e recursos humanos especializados. Por exemplo, alguém que está numa síndrome de abstinência aguda do crack, ou alguém com surto psicótico importante - quando há doenças físicas concomitantes à doença mental - preciso ter a proximidade de um hospital geral, para ter suporte químico para o tratamento da doença. E os CAPS não tem essa vocação e nem recursos humanos para isso, aponta o psiquiatra.

Questionado sobre se o problema da centralização do tratamento nos CAPS é um problema de falta de recursos, Mauro explicou que, em 2010, o governo federal destinou 2,5% da verba da saúde para a política de saúde mental, o que representou aumento em relação aos anos anteriores. “O problema não é número absoluto de recursos, mas sim de distribuí-los sem equidade, privilegiando apenas um equipamento. Centralizou-se ainda mais o que se queria descentralizar, o que se torna um paradoxo”.

Os CAPS são privilegiados em relação aos recursos federais, em comparação com os leitos psiquiatricos em hospitais. E este privilégio está até na forma de pagamento: o CAPS ganha por diária, e não por número de leitos. “Na verdade, o CAPS deveria ser só uma das etapas do tratamento, destinada à reabilitação social. No caso de problemas mais complexos, que exigem tratamento mais especializado, o paciente tem que ser encaminhado para um ambulatório de saúde mental”.

Sobre o funcionamento dos centros de atenção, o representante do CONED-SP disse que 30% dos CAPS não apresentam bom funcionamento e boa ligação entre paciente e família e entre paciente e recursos da comunidade. Os CAPS são de responsabilidade da gestão municipal.

“Precisamos fazer não só essa ligação com os recursos da comunidade, mas também criar mais esses recursos, como centros de convivência para pessoas com transtorno mental. A função de um centro de convivência é trazer pessoas que tem aquele mesmo tipo de problema para uma convivência comum, com o auxílio de recreadores e profissionais que possam complementar a atividade de relacionamento entre eles, como um clube, onde são capacitados em termos de atividades produtivas e artísticas. E este é um acolhimento específico da assistência social. Essa é a complexidade da doença mental, porque não é só a medicina que deve estar dentro disso”.

A Secretaria de Assistência Social da Prefeitura de São Paulo mantém os Centros de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) e os Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), que tentam preencher essa vácuo nos espaços de convivência, servindo como porta de entrada para moradores de rua. Contudo, pela complexidade dos perfis de pessoas que aparecem por lá, os assistentes sociais encontram dificuldades para fazer o encaminhamento adequado daqueles que apresentam transtornos mentais. Isso é agravado com a ainda fraca integração entre os CAPS e os serviços de assistência social. No dia em que a reportagem visitou uma das unidades do CREAS, na Barra Funda, os frequentadores estavam assistindo à televisão.

Mauro sugere que o governo peça ajuda à Associação Brasileira de Psiquiatria, para incrementar a técnica de atendimento. “Por exemplo, sabemos que nos CAPS existe um baixo índice de uso de uma droga chamada Clozapina, considerada o melhor neuroléptico não só para tratar fases agudas das doenças, como para evitar novos surtos, melhorando a sociabilidade do paciente. Essa droga é muito importante para casos graves, e sabemos que o CAPS utiliza muito pouco, pelo fato de que lá deve-se fazer o controle semana de hemograma, e essa droga acaba mascarando um pouco os resultados do exame”.

Outro problema diz respeito à correta indicação e aplicação da convulsoterapia, conhecida, no senso comum, como terapia de choque elétrico, e que por muito tempo continuará sendo um tratamento necessário para a psiquiatria. Hoje o procedimento é mais capacitado, realizado mediante anestesia e indicado para poucos casos. Mesmo assim, é importante que todas as pessoas que trabalham no SUS tivessem esse conhecimento, portanto é preciso melhor capacitação e regulamentação de todas as intervenções na saúde mental. Modelos alternativos, como o do AA e de grupos de ajuda mútua, também são indicados por alguns psiquiatras. Mas eles não estão consolidados dentro do CAPS, que ainda apresenta bastante rejeição”, concluiu Mauro.

Sobre a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo

A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo gasta anualmente R$ 33 milhões para atendimento a dependentes químicos no Estado. Nos últimos quatro anos foram criados no estado cerca de 400 leitos, com financiamento estadual, uma vez que a atual política de saúde mental do Ministério da Saúde não previa, até agora, internação dos pacientes com dependência em álcool e drogas em enfermarias especializadas. Nos próximos dois anos a Secretaria pretende dobrar o número de leitos exclusivo para tratamento dos dependentes, com novos serviços na capital, Botucatu, Ribeirão Preto e Itapira, entre outras localidades. O investimento para a implantação dos novos leitos será de aproximadamente R$ 200 milhões.

Além disso, o Cratod (Centro de Referência em Álcool, Tabaco e outras Drogas), serviço da Secretaria na capital, capacita os profissionais de saúde dos municípios para implantação dos CAPS AD (Álcool e Drogas). Seguindo as diretrizes do SUS, a implantação dos CAPS AD, bem como a operacionalização desses serviços, é de competência municipal. O credenciamento dos serviços é feito pelo Ministério da Saúde.

Fonte: Blog do Nassif
http://www.vermelho.org.br/ce/noticia.php?id_secao=2&id_noticia=173667